Criador e Criatura

devil

POR JULIO CESAR OLIVEIRA

 

Eu sei, isso pode até parecer uma heresia, ou um paradoxo. Entretanto, pensando do ponto de vista prático, acho que todo mundo está rezando errado. É isso! Temo ter encontrado a solução para um dos maiores problemas existenciais da humanidade: a luta entre o bem e o mal.

Era um dia de folga e, como tal, estava a relaxar em minha morada até que tive a ideia de passar num mercadinho, pois havia me lembrado de uma receita que não saboreava faz tempo e que muito me apetece. No caminho, passei por um pequeno templo, desses que brotam por aí, bastando uma cadeira de plástico, um quadro-mural, um microfone, uma potente caixa de som e ouvidos resistentes a todos os tipos de evocações e exaltações histérico-religiosas.

Na porta do recinto, sobre uma mesinha modesta de madeira antiga, um curioso livro me chamou a atenção. Na capa, estava escrito: Seu nome no livro de orações! Confesso que pensei numa traquinagem maldosa de adulto ao cogitar o nome de um vizinho chato ou chefe do trabalho, mas, antes de empunhar aquela caneta bic amarrada com barbante e com tampa mordida, caí num dilema: “E se eu colocasse o nome do capeta no livro? Será que rezariam pelo coisa-ruim?”. Sim, afinal dizem que a fé transforma e cura tudo e a todos. Pensem comigo, porque não param de culpar o diabo por todas as mazelas de nossa sociedade e passam a orar por essa criatura de Deus que só pensa em maldade?

Aquela ideia, que era para ser gozação, passou a fazer total sentido na minha cabeça. Imaginei de repente todas as igrejas, templos, seitas, terreiros ou seja lá o que for, orando pelo bem do Beu-Zebu, oras! Pensei na discriminação que o pobre anjo decaído vem sofrendo ao longo de milênios e as tentativas frustradas de ascender ao reino dos céus… No final de tantos sucessivos fracassos, o capeta só podia descambar para a maldade mesmo, como se “Dick Vigarista” fosse.

Todavia, como o poder dEle não se discute, lanço uma campanha: rezemos por Lúcifer! Chega de exorcimos, de história da maçã, quem nunca errou que atire a primeira pedra. Isso é injusto, pessoal! Quem sabe rezando não aplacamos a fúria de fazer o mal do dito cujo? Ou, então, podemos oferecer uma vaga de político em Brasília em meio a outros santos? Bem, se isso vai funcionar eu não sei. Mas, uma cadeira, lá no céu, ao lado de Deus, não seria tentador?

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